Tudo que nos separa.
- Jamile Borges
- 14 de jun. de 2020
- 2 min de leitura

Eu refleti muito se faria esse texto. Se deveria deixar crua essa nossa necessidade de dividir e excluir. Quando penso sobre tudo o que vem acontecendo no mundo, me lembro que no início eu também era adepta do nós e eles . Quando foi que esse sentimento começou?
A primeira vez que me dei conta de que existem linhas imaginárias, barreiras sociais que nos definem , foi no meu ensino fundamental. Eu era uma criança… O que diabos poderia saber sobre tudo o que nos divide? Tudo o que me torna diferente para uns ?
Hoje vejo o ápice desse sentimento apagar de nós tudo o que nos une e que de fato é real. Cada ser humano não deixa de sê-lo por causa de sua religião ou por seu gênero ou por sua raça ou por sua opção sexual. No fim , tudo o que nos une é muito mais essencial e básico do que aquilo que nos separa.
Olhando para aquela menina que não entendia o porquê das diferenças , me dou conta como adulta que simplesmente cedi a corrente e fui segregando.
Só que o sentimento de separação é algo corrosivo. É algo destrutivo e vazio. Eu precisei fazer o caminho de volta. Comecei a ver o que nos une. É um caminho longo e nem de longe estou perto do fim. Mas se algum aprendizado tenho tirado dessa minha jornada é que gostamos de criar degraus para lidar com o vazio que sentimos, muito pela nossa dificuldade de lidar com a gente mesmo.
O que nos torna comunidade é algo básico, primitivo e essencial à nossa existência. Nesse período de pandemia onde o isolamento social se faz essencial, percebemos que precisamos uns dos outros. Precisamos do comunitário, do grupo. Que está sozinho e isolado é difícil, doloroso. Que nossas diferenças são algo que nos personaliza , mas isso não serve como métrica de exclusão.
Focamos tanto em nós distinguir que em plena pandemia ,onde precisamos desse sentimento comunitário , estamos totalmente inaptos. Como alguém que tem aquele órgão , que é essencial, mas não cuida nem valoriza. Fica esperando chegar ao ponto crítico para tentar resgatar e as vezes nem mesmo assim.
Se tudo que nos separa nos trouxe para esse momento repleto de caos, talvez se voltarmos a olhar para tudo o quê nos une possamos fazer algo diferente.
Para mais divagações, Alice . Caindo cada vez mais fundo na Toca do coelho.

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